Há algum tempo atrás vi uma esquete, em um evento especifico que visa levar o evangelho à pessoas não conhecedoras do mesmo.
A
esquete obviamente feita por pessoas que não são atores profissionais,
mas que ainda assim estava muito bem estruturada no que diz respeito a
técnicas teatrais como: triangulação, projeção de voz, consciência
corporal, entre outras,porem percebi que a esquete tinha o que sempre
temos no teatro "de igreja", pessoas com muito boa vontade mas que não
fazem do seu trabalho um ato de reflexão.
Personagens
caricatos: uma prostituta, um mendigo, um dependente químico, e claro
um cristo vestido de branco. Não quo dizer que a cena não é potente, mas
que não existia espaço para refletir sobre o que Cristo propõe: uma
vida abundante.
Assisti
junto com outras tantas pessoas as mazelas do ser humano caído, mas
não conseguia ver no cristo vida, restauração, embora ele o cristo
salvasse todos aqueles personagens e tivesse um olhar amoroso. Me peguei
pensando no cristo europeu desenhado por tantos artistas da idade media
e que ate hoje são referencias para os cristãos católicos e para muitos
protestantes também. Pois bem algumas perguntas que me fiz: Qual
reflexão essas pessoas vão levar dessa experiência? Qual a relação que
esses atores amadores tem com a arte? Eles se questionam sobre o que
estão representando? Se trabalham com clichês é por escolha ou por falta
de conhecimento?
São
perguntas para pensarmos, talvez não tenhamos apenas uma resposta, mas
gostaria de deixar minha impressão sobre esses questionamentos.
Proponho
nos meus trabalhos uma reflexão em relação ao que ouvimos em uma
mensagem. Se ouvimos que devemos amar o próximo como a nós mesmos como
posso sair de uma reunião, um culto (seja lá qual nome daremos para o
nosso encontro com cristo de domingo à noite)
e vermos alguém passando frio e não fazer nada? Ou precisando de ajuda
para subir em um ônibus, ou precisando conversar? Parece pouco não é?
Mas ao lermos varias passagens bíblicas nos deparamos com um Cristo
que sempre tinha algo a mais para oferecer as pessoas que o seguiam, é
possível perceber sua bondade e a mensagem em AÇÃO, não apenas na
palavra.
Isso
me traz uma certeza: é impossível fazer arte e gerar vida sem conhecer o
contexto do outro, a sua cultura, a sua experiência de vida. Cristo não
apenas passava pela experiência, ele estava atento ao seu redor,
cumpriu toda a lei Judaica para se fazer merecedor e passível de
mudanças nessas leis. Isso é claro levou algum tempo.
Mas
como administramos o nosso tempo para vivenciar o que de fato é
importante para o Reino? Tudo isso esta relacionado com quais reflexões
fazemos ao ver uma cena, seja na rua, na igreja, em um evento, mas
também está relacionado em como eu me posiciono no mundo. É necessário e
eu diria que se faz urgente repensarmos nossa posição enquanto cidadãos
cristãos nesse século.
A
arte não pode ser vista apenas como ferramenta de evangelismo, embora
seja muito potente, pois esse é um dos papeis dela: gerar
questionamentos e através desses gerar vida. Creio ser de extrema
importância relacionar o seu trabalho (ainda que amador) com outros
tipos de trabalhos, como por exemplo: exposições, instalações,
fotografias, musica, poesias, espetáculos de dança ou teatro. Conhecer
outras pessoas que trabalhem com essas linguagens artísticas, dentro e
principalmente fora da igreja. Pode uma lamparina trazer luz na
claridade? Nós só podemos ser pequenos Cristos, onde o amor dele ainda
não alcançou, sei que parece chover no molhado isso que escrevo, mas a
igreja dessas ultimas décadas se esqueceu para o que de fato foi
chamada, é necessário voltarmos e olharmos com mais atenção para os
ensinamentos de cristo. Pensar e repensar sobre a vida, o reino, o seu
papel no reino.
Orar,
ler, ler mais, muito mais, escrever sobre o que se leu. Com tantos
avanços tecnológicos, quase nos esquecemos do que tanto nos foi útil
outrora: a escrita, o papel.
Fazer valer a escrita de tantos teóricos como: Rookmaaker; Schaefer; Sandro Baggio; Guido Conrado; Isabel Coimbra; Carolina L. Gualberto; Ceci Baptista Mariani; Maria Angela Vilhena e tantos outros.
Conhecer para entender, entender para questionar e questionar para crescer transformar, melhorar, especializar.
Trabalhar
com o clichê por opção e não por falta de opção. O clichê pode ser
transformador também, se apropriar de formas já comumente utilizadas é
uma boa maneira de se começar, mas não é interessante ver sempre a mesma
coisa. Por isso é de urgência primaria criar, recriar, pensar, estudar
a fundo, buscar uma ova maneira de se fazer uma mesma cena, uma dança,
um quadro, inovar.
Se
você é cristão e esta lendo isso deve estar se perguntando onde eu
encontro Deus em tudo isso? Pois bem, Deus está em tudo isso, porque
isso é a vida. Estamos tão acostumados a separar em caixas o que podemos
ou não dizer, fazer,o secular do espiritual, que as vezes nos
esquecemos de perceber Cristo nos detalhes, nas pequenas coisas.
Ler
um teórico não cristão pode te ajudar a entender a visão de mundo que
ele tem e te ajudar a respeitar e entender um nicho especifico, eu diria
que você pode encontrar Cristo em muitas citações, mas isso é uma
descoberta, é individual e opcional.
Um
bom testemunho, ser luz nos detalhes, nas pequenas coisas. Ser humano,
pois Deus te fez com um propósito muito claro: viver e gerar ainda mais
vida e deseja que ela seja abundante.
- Ester Lopes de Souza