quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Planta entre espinhos

"Outras ainda, como a semente lançada entre espinhos, ouvem a palavra; mas quando chegam as preocupações dessa vida, o engano das riquezas e o anseio por outras coisas sufocam a palavra, tornando-a infrutífera." (Marcos4:18-19)

Vamos falar hoje sobre a parábola do semeador, descrita no quarto capítulo de Marcos, onde Jesus compara quatro tipos de terrenos onde a semente cai com quatro tipos de forma de se receber o evangelho. Apesar de todas as comparações serem dignas de um post, me focarei no terceiro tipo de semente, a que é lançada entre os espinhos.
As duas primeiras sementes lançadas representavam pessoas que não aceitaram ou que, apesar de aceitar, logo desviaram-se do caminho do evangelho. Mas a terceira não e, com exceção da ultima semente, ela é a única planta que permanece viva, porem infrutífera. Vemos que a terceira planta representam cristãos nos quais o evangelho ainda está vivo, mas se encontra sufocado por três coisas diferentes: as preocupações da vida, o anseio pela riqueza e o anseio por outras coisas.
Em uma grande metrópole como São Paulo as pessoas  correm de um lado para o outro, nas estações de metrô, nos carros, na ruas. Acredito que todos queriam ter um dia de 30 horas. Também, o capitalismo selvagem nos obriga a estudar, trabalhar, fazer horas extras, especialização, e além disso cuidarmos de nosso cônjuge, família, manter as amizades, e tudo mais. Numa rotina como essa, onde fica o momento para Deus? No culto? Se o nosso momento para Deus está só no culto, temos que rever muito nosso cristianismo. Nosso tempo livre não existe mais, e mesmo que tivéssemos dias de 30 horas, as ocuparíamos com mais afazeres. Essas são as "preocupações dessa vida" que sufocam o evangelho.
Voltando a falar sobre trabalho, é engraçado que quando começamos a trabalhar queremos juntar um dinheirinho para comprar um carro. Fazemos hora extra, bicos, tudo para conseguir juntar um dinheiro para comprar o carrinho. Mas não para por ai. Logo a pessoa terá que pagar a faculdade. Depois vai querer comprar um apartamento.Mais tarde, quem sabe, se casar. E por ai vai. E isso é um circulo vicioso. A pessoa pensa "Só vou me matar de trabalhar hoje para poder me casar depois e está tudo certo", mas logo vem a mobilia da casa, a educação dos filhos, e essa busca não termina nunca. Ainda que ganhássemos na Mega Sena, ainda teríamos objetivos financeiros a frente para angariarmos. O problema não são os objetivos mas a busca implacável pelo dinheiro para ter "aquele" carro, "aquela" festa, são coisas que tiram nosso foco da palavra de Deus. Isso é o "engano das riquezas" que sufoca o evangelho.
Muitas vezes também traçamos objetivos e gastamos nosso tempo inteiro buscando coisas que nem nós mesmo sabemos direito o que é. Traçamos carreira, estudos e relacionamentos como os objetivos máximos de nossa vida e queremos primeiro sermos casados com filhos, chefes de multinacionais trilingui e pós-doutorados para ai sim pensarmos no evangelho. Isso também é perigoso, são os "anseios por outras coisas" que também sufocam o evangelho.
Quem me olhar através desse texto vai pensar que sou contra tudo, mas não, muito pelo contrário, sou formado, trabalho e ainda estudo.  Porem, temos, eu também, que nos preocupar com a possibilidade de fazermos parte do grupo das plantas que se encontram sufocadas entre os espinhos, sem espaço para darmos os frutos do Reino. Não precisamos ser extremistas, mas lembremos do fim da parábola de Jesus, que diz que "Outras pessoas são como a semente lançada em boa terra: ouvem a palavra, aceitam-na e dão colheita de trinta, sessenta e até cem por um". Quais dos dois terrenos somos? Fica ai a reflexão!
Boa noite!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Cristianismo ou cultura gospel?


"Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar judeus. Para os que estão debaixo da Lei, tornei-me como se estivesse sujeito à Lei [...] a fim de ganhar os que estão debaixo da Lei. Para os que estão sei lei, tornei-me como sem lei [...], a fim de ganhar os que não tem Lei. Para os fracos, tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns. Faço tudo isso por causa do Evangelho, para ser coparticipante dele." (1 Coríntios 9:20-23)

Estudando um pouco sobre a história da Igreja percebi como, muitas vezes, o evangelho é confundido com uma cultura. Infelizmente, muitos países foram fechados para o evangelho por conta de missões que quiseram transformar a cultura, e não só simplesmente pregar a Cristo. E as próprias pessoas também agem dessa forma contra quem deseja muda-las e o apóstolo Paulo sabia disso.
No texto acima conseguimos entender que Paulo, para levar as pessoas à crença no Evangelho, se misturava culturalmente com elas. Se fazia igual a elas, mesmo não sendo. Como professor do Estado, percebo que quanto mais os alunos percebem que eu passei pelas mesmas fases que eles estão passando, na minha adolescência, mais me respeitam. Com o evangelho é a mesma coisa. Temos que aprender a nos fazermos, mesmo sem sermos, para alcançarmos as pessoas, pois, dando um exemplo extremo, se você quiser evangelizar um surfista, na praia, você estando de terno e gravata e chamando o cara de "vaso", ele provavelmente vai te interpretar como um ET e não vai considerar uma palavra que você disser.
Outra coisa que acontece é a intimação ao novo convertido para mudar sua cultura para se tornar cristão. Frases como "mas para você vir para igreja você tem que deixar de ouvir rock" ou "olha, você vai ter que parar de usar os brincos para participar dos jovens" tem um peso gigantesco para quem as ouve. No lugar de aproveita o fato da pessoa curtir um rock e, de repente, presenteá-la com um CD do Oficina G3, por exemplo, a pessoa simplesmente demoniza a cultura da outra é quer sujeita-la a padrões, como ouvir músicas do estilo gospel, parar de usar maquiagem, quando, como já disse, no fim das contas, fazer essas coisas nada influenciam para a salvação. Muitos consideram a questão dos "usos e costumes" algo que não se pode discutir, um tabu de cada igreja, mas, se não tomarmos o devido cuidado, pode ser mais uma ferramenta para afastar o novo convertido da Igreja e, consequentemente, de Deus.
Um ultimo problema que isso acarreta é que, muitas vezes, temos pessoas convertidas a cultura gospel mas não a Jesus. A pessoa usa todas as roupas cristãs, ouve apenas hinos, (que, como já falei no blog, nem sempre são verdadeiramente cristãos), sabe todos os jargões cristãos mas em si mesma não é convertida a Cristo. Isso nada mais é que o fruto de um evangelismo cultural, assim como faziam os fariseus descritos em Mateus 23:15.
Concordo sim que, muitas coisas culturais não são compatíveis ao cristianismo, mas modificar a pessoa por fora sem modifica-las internamente não adianta nada. Cabe a nós perceber onde acaba o cristianismo e começa a cultura gospel. Pois, como o próprio Jesus disse, ainda em Mateus 23 que "Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês limpam o exterior do copo e do prato, mas por dentro eles estão cheios de ganância e cobiça. Fariseu cego! Limpe primeiro o interior do copo e do prato, para que o exterior também fique limpo." (v.25 e 26). Boa noite!